Não pretendo dissecar, aqui, os motivos que justificam essa inusitada sensação nostálgica que pintou na estreia da 13ª edição do reality global. Quero é me ater em uma das características do campeão do BBB12 que considero pouco comentada, ou analisada, e que me suscita grande respeito à pessoa dele. Não que essa seja a única questão responsável por isso, mas realmente, do meu ponto de vista, tal característica de Fael é bastante marcante e, até mesmo, historicamente conseqüente.
O traço a que me refiro é aquele jeito meio calado, reservado e misterioso , é aquela discrição interiorana que confere ao modo “bruto” de ser dele um toque elegante e refinado. Requintado sim, embora sem frescura alguma. Em tempos em que várias celebridades e ex-BBBs mostram a calcinha, vão à praia no ponto do paparazzo, fazem barraco nas redes sociais, transformam a gravidez ou a consulta ao ginecologista em espetáculo e usam vários outros artifícios congêneres para aparecerem nas mídias, a discrição midiática de Fael soa quase como a de um lorde britânico.
Não venham dizer que esse modo de ser de Fael é provocado por timidez. Quem já o viu no meio de uma arena de rodeio percebe que a timidez está longe de ser uma característica forte dele. Quem o acompanhou após a vitória no BBB percebe que esta é uma opção do campeão, seja ela intuitiva ou consciente. Faz parte do seu modo de ser, de sua personalidade. Talvez por natureza, talvez por causa da cultura e da educação, talvez porque ele queira resguardar sua privacidade e manter razoável distância das pressões subjetivas e morais dos fãs e da linha de tiro das fofocas. Eu, particularmente, aposto na combinação de todos esses fatores.
Esse resguardo do excesso de exposição da vida privada eu considero um tanto inteligente. A mídia de celebridades – incluo aqui as redes sociais – é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que traz a fama, promove o excesso de controle. Imprensa e fãs, juntos, funcionam praticamente como aquelas fofoqueiras de antigamente, as carolas de porta de igreja, que passavam o dia vigiando a vida alheia, promovendo o controle moral da sociedade sobre os indivíduos da comunidade. A literatura brasileira está repleta dessas personagens fofoqueiras. Dorotéia, Olga, Florzinha e Quinquina, de Gabriela, Cravo de Canela, de Jorge Amado, são ótimos exemplos da função de controle inerente ao ato de vigiar e fofocar.
Controles e individualidades
A verdade é que a sociedade sempre tentou criar mecanismos para controlar as atitudes individuais nos mais diversos planos da existência humana: da vida social e comunitária aos amores e segredos mais recônditos da intimidade. Se, de um lado, as leis e os regulamentos dão os parâmetros gerais de como agir socialmente, inúmeras outras instituições tentam ordenar a moralidade e a conduta no plano privado e íntimo. A Igreja, por exemplo, ao instituir a obrigação moral da confissão, conseguiu frear muitos corações desalinhados, amores mal vistos e até mesmo pensamentos considerados inapropriados e inadequados.
A tentativa de controle da individualidade é, por outro lado, secularmente criticada por vários filósofos e outros estudiosos. E não é porque se prega a anarquia moral e comportamental. A educação e a vida em sociedade exigem mesmo regras de conduta. O cerne da crítica é quando esse controle se torna abusivo e se transforma em ferramenta de poder para fazer valer um status quo autoritário, através da manipulação das crenças que sustentam as moralidades e do cerceamento das liberdades e dos direitos individuais.
Giordano Bruno, ao proclamar que a Terra não era o centro do universo, através da observação científica, foi queimado vivo, na fogueira, como um herege. Historicamente, um dos pilares das ditaduras tem sido o poder que ela se outorga para vasculhar a intimidade alheia, invadir a vida privada, os lares e as correspondências, sem qualquer cerimônia, aviso prévio ou autorização judicial.
É nesse viés de reflexão que a atual instituição da celebridade midiática – que lança para a fama aqueles que expõem a privacidade e a intimidade nas mídias – tem assustado vários dos que defendem a importância da inviolabilidade das esferas privada e íntima, na preservação das liberdades e direitos individuais. Tal tipo de exposição contribuiria para o apagamento das percepções sobre o que seria público, íntimo e privado, adentrando em um perigoso terreno que facilitaria, entre outras coisas, o controle das individualidades e singularidades.
As críticas à exposição da intimidade e privacidade não param por aí, pois ela estaria deslocando a característica milenar da fama, que, até pouco tempo, era assentada na capacidade ou habilidade extraordinária de alguém no exercício de algum ofício. Ou seja, atualmente, para ser famoso não seria mais preciso dominar com habilidade e profundidade algum conhecimento ou ofício. Bastaria mostrar a calcinha na mídia, ou fazer uso de algum artifício congênere, para se tornar notícia.
E aqui, vamos combinar que devemos conceder mais méritos a Rafael Cordeiro, pois ele não é refém de factóides para dar prosseguimento a sua jornada profissional, ainda que venha a permanecer no mundo do espetáculo. Afinal, ele não depende de nenhum artifício, nem de nenhum romance para estar numa arena de rodeio, ou para apresentar um programa que fale de laço, de boi e de cavalo. Esse é um mundo que ele conhece e tem fortes laços de identidade cultural.
No fundo acho que ele é bastante soberbo, com raríssimas exceções, não responde a quem tanto torceu por ele e vive no TT pedindo um alô, um cumprimento, um feliz aniversário. Não seria exposto de maneira alguma se fosse delicado/atencioso pelo menos algumas vezes com as meninas espanholas. Alô galera!!! é muito vago para quem se dedicou muito a ele.
ResponderExcluirAnálise muito bem fundamentada sobre esse homem, direi até que, sábio, pelas suas atitudes e principalmente, por se manter fiel aos seus princípios e seus valores ao participar do meio midiático ao qual não estava acostumado.
ResponderExcluirAssinaria este seu texto, Márcia.Creio que o apreço à liberdade está na raiz deste saber intuitivo que o Fael tem para se preservar e se desvencilhar dessas armadilhas de controle social que você expôs tão bem. E vou além:inclusive (e/ou sobretudo) daquelas oferecidas por esta entidade implacável: o/a 'fã'.Quem acompanha as sucessivas edições do BBB sabe bem que é tênue a linha que separa o 'fã' do 'hater'.Uma projeção que não se confirma,uma expectativa que não se cumpre, um interesse (à revelia) que se contrarie e ... a linha se rompe. Mostra-se então a face feia do hater no seu ressentimento imotivado. Ainda bem que o Fael tem conseguido lidar bem com todos esses percalços.Por lidar bem quero dizer dar a eles o (pouquíssimo) peso que têm. Não deixar que interfiram na construção da sua vida pública. Bendito apreço à liberdade. Gosto disso. E gostei muito do seu texto. Neli Souza
ResponderExcluirPresenciamos alguns casos de "haters" e, às vezes, vejo alguns se ensaindo... Que Fael continue comandante supremo de sua vida! Ninguém tem que cumprir roteiros de vida traçados por outrem.
ExcluirMuito feliz pelo surgimento de mais um blog de apoio ao Fael, Márcia.
ResponderExcluirComo grande admiradora dele, procuro ler tudo o que se publica sobre essa pessoa amada por tanta gente e que tenho certeza, vai continuar sendo pela vida afora!
Amei o seu texto e desejo vida longa ao seu blog! Eunice Carvalho