sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Histórias e considerações sobre a sopa paraguaia


Fui apresentada à sopa paraguaia por um certo cowboy, durante o BBB 12. Nessa época, eu achava que a iguaria se tratava de um caldo típico do Paraguai, que teve sua receita absorvida pela região de fronteira do Brasil com aquele país.

Quando ele saiu do BBB e sugeriu comer sopa paraguaia na Semana Santa, percebi uma certa ironia, que eu não gostei, por parte do pessoal do UOLBBB. Resolvi, então, pesquisar a receita na internet e respondi a eles, pelo twitter, que o prato me parecia ser uma espécie de suflê de milho. Fiquei satisfeita com a minha intervenção porque me pareceu que, como “suflê”, a sopa tinha conquistado maior respeito da parte do povo do UOL.
   
Só em Aral Moreira é que descobri que a sopa paraguaia era um bolo de milho salgado, muito apreciado no estado do Mato Grosso do Sul e não apenas na região de fronteira. E, esses dias, também descobri que Ana Maria Braga intuiu certo, quando imaginou que a receita da iguaria foi criada a partir de um erro culinário.
Don Carlos Antonio López

Dizem os historiadores paraguaios que Don Carlos Antonio López, presidente daquele país entre os anos de 1841 e 1862, adorava tykueti, uma sopa cremosa feita à base de leite, ovos, queijo e farinha de milho. Gostava tanto da iguaria que ela não podia faltar na sua mesa.

Certo dia, a cozinheira, por um descuido, colocou mais farinha de milho do que recomendava a receita. E como não tinha mais tempo de refazer a sopa, ou substituí-la por outro prato, decidiu despejar a mistura num recipiente de ferro e colocar no forno.

No momento de servir, a cozinheira, com medo de ser repreendida e do prato não agradar, preferiu contar o ocorrido. Só que, em vez de uma bronca, ela ganhou vários elogios, pois o presidente adorou o bolo salgado e, com humor, decidiu batizá-lo de “sopa paraguaia”.

Se, por um lado, Ana Maria Braga intuiu bem a história do prato típico, ela, na minha opinião, não escolheu tão bem a receita (clique aqui para acessá-la) a ser passada para o público. Estou longe de ser grande conhecedora de sopa paraguaia, mas, pra mim, tá faltando cebola e queijo na receita.

Da primeira vez que comi a sopa tão comentada e adorada por Fael, o sabor da cebola douradinha misturada ao milho se sobressaiu de imediato. De forma que, minha memória gustativa reclamou na mesma hora que li a receita.

Desde que voltei do Mato Grosso do Sul, passei a fazer sopa paraguaia em casa, sempre. Virei mesmo freguesa da iguaria. Além de ser muito gostosa, é bem rápida e prática de fazer. Os ingredientes são simples, básicos, daqueles que a gente costuma ter em casa.

A receita que faço é bem parecida com essa da Ana Maria Braga, com a diferença que coloco muito mais cebola (duas de bom tamanho, cortadas bem fininhas). Além disso, minha receita tem três ovos e menos leite (uns 500 ou 600 ml), porque a farinha de milho tem tendência a deixar os assados esfarelentos. Acho que um ovo a mais ajuda a dar liga.

Na minha experiência empírica com a sopa paraguaia, ainda percebi que o queijo (costumo usar unmas 150 ou 200 g de prato ou muçarela) também tem papel importantíssimo na liga. Por isso, é fundamental colocá-lo quando a massa ainda está bem quente, para que ele se derreta e se incorpore a ela.

E então? Alguém tem alguma dica diferente a dar sobre sopa paraguaia? E quem nunca comeu. se habilita em fazê-la?

Receita de sopa paraguaia da Ana Maria Braga


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Fael misterioso

Um novo Big Brother começou. Nostalgia e coração apertado foram, fortemente, sentidos no peito. Um inexplicável sentimento de “perda” de Rafael Cordeiro, vencedor do BBB 12, foi inevitável. Junto com essa sensação de grande saudade, veio uma vontade quase que incontrolável de escrever sobre ele, para falar coisas que eu queria ter dito e acho que ainda não disse.

Não pretendo dissecar, aqui, os motivos que justificam essa inusitada sensação nostálgica que pintou na estreia da 13ª edição do reality global. Quero é me ater em uma das características do campeão do BBB12 que considero pouco comentada, ou analisada, e que me suscita grande respeito à pessoa dele. Não que essa seja a única questão responsável por isso, mas realmente, do meu ponto de vista, tal característica de Fael é bastante marcante e, até mesmo, historicamente conseqüente.

O traço a que me refiro é aquele jeito meio calado, reservado e misterioso , é aquela discrição interiorana que confere ao modo “bruto” de ser dele um toque elegante e refinado. Requintado sim, embora sem frescura alguma. Em tempos em que várias celebridades e ex-BBBs mostram a calcinha, vão à praia no ponto do paparazzo, fazem barraco nas redes sociais, transformam a gravidez ou a consulta ao ginecologista em espetáculo e usam vários outros artifícios congêneres para aparecerem nas mídias, a discrição midiática de Fael soa quase como a de um lorde britânico.

Não venham dizer que esse modo de ser de Fael é provocado por timidez. Quem já o viu no meio de uma arena de rodeio percebe que a timidez está longe de ser uma característica forte dele. Quem o acompanhou após a vitória no BBB percebe que esta é uma opção do campeão, seja ela intuitiva ou consciente. Faz parte do seu modo de ser, de sua personalidade. Talvez por natureza, talvez por causa da cultura e da educação, talvez porque ele queira resguardar sua privacidade e manter razoável distância das pressões subjetivas e morais dos fãs e da linha de tiro das fofocas. Eu, particularmente, aposto na combinação de todos esses fatores.

Esse resguardo do excesso de exposição da vida privada eu considero um tanto inteligente. A mídia de celebridades – incluo aqui as redes sociais – é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que traz a fama, promove o excesso de controle. Imprensa e fãs, juntos, funcionam praticamente como aquelas fofoqueiras de antigamente, as carolas de porta de igreja, que passavam o dia vigiando a vida alheia, promovendo o controle moral da sociedade sobre os indivíduos da comunidade. A literatura brasileira está repleta dessas personagens fofoqueiras. Dorotéia, Olga, Florzinha e Quinquina, de Gabriela, Cravo de Canela, de Jorge Amado, são ótimos exemplos da função de controle inerente ao ato de vigiar e fofocar.
 
Controles e individualidades

A verdade é que a sociedade sempre tentou criar mecanismos para controlar as atitudes individuais nos mais diversos planos da existência humana: da vida social e comunitária aos amores e segredos mais recônditos da intimidade. Se, de um lado, as leis e os regulamentos dão os parâmetros gerais de como agir socialmente, inúmeras outras instituições tentam ordenar a moralidade e a conduta no plano privado e íntimo. A Igreja, por exemplo, ao instituir a obrigação moral da confissão, conseguiu frear muitos corações desalinhados, amores mal vistos e até mesmo pensamentos considerados inapropriados e inadequados.
  
A tentativa de controle da individualidade é, por outro lado, secularmente criticada por vários filósofos e outros estudiosos. E não é porque se prega a anarquia moral e comportamental. A educação e a vida em sociedade exigem mesmo regras de conduta.  O cerne da crítica é quando esse controle se torna abusivo e se transforma em ferramenta de poder para fazer valer um status quo autoritário, através da manipulação das crenças que sustentam as moralidades e do cerceamento das liberdades e dos direitos individuais.

Giordano Bruno, ao proclamar que a Terra não era o centro do universo, através da observação científica, foi queimado vivo, na fogueira, como um herege. Historicamente, um dos pilares das ditaduras tem sido o poder que ela se outorga para vasculhar a intimidade alheia, invadir a vida privada, os lares e as correspondências, sem qualquer cerimônia, aviso prévio  ou autorização judicial.
 
É nesse viés de reflexão que a atual instituição da celebridade midiática – que lança para a fama aqueles que expõem a privacidade e a intimidade nas mídias – tem assustado vários dos que defendem a importância da inviolabilidade das esferas privada e íntima, na preservação das liberdades e direitos individuais. Tal tipo de exposição contribuiria para o apagamento das percepções sobre o que seria público, íntimo e privado, adentrando em um perigoso terreno que facilitaria, entre outras coisas, o controle das individualidades e singularidades.

As críticas à exposição da intimidade e privacidade não param por aí, pois ela estaria deslocando a característica milenar da fama, que, até pouco tempo, era assentada na capacidade ou habilidade extraordinária de alguém no exercício de algum ofício. Ou seja, atualmente, para ser famoso não seria mais preciso dominar com habilidade e profundidade algum conhecimento ou ofício. Bastaria mostrar a calcinha na mídia, ou fazer uso de algum artifício congênere, para se tornar notícia.

E aqui, vamos combinar que devemos conceder mais méritos a Rafael Cordeiro, pois ele não é refém de factóides para dar prosseguimento a sua jornada profissional, ainda que venha a permanecer no mundo do espetáculo. Afinal, ele não depende de nenhum artifício, nem de nenhum romance para estar numa arena de rodeio, ou para apresentar um programa que fale de laço, de boi e de cavalo. Esse é um mundo que ele conhece e tem fortes laços de identidade cultural.